Lara, o que despoletou o desejo de mudar fisicamente?
Sempre fui uma menina meio rechonchuda mas não era obesa, no entanto com a minha gravidez e depressão pós-parto foi o desastre total. Fui diagnosticada com espondilite indiferenciada, tendo inflamações e artrite e foi quando me assustei a sério, tive que tomar corticoides e pensei que seria o meu fim. Mas, depois do choque, tive uma conversa comigo mesma e sendo uma mulher que nunca desiste, achei que estava na altura de tomar as rédeas da minha vida e dar o primeiro passo para me sentir melhor.
Quanto pesavas no início da transformação, quanto pesas agora e qual o peso que desejas para ti?
A última vez que me pesei, sim porque evitava ao máximo essa realidade, tinha 101kg, mas ainda devia pesar mais uns quilos quando iniciei a minha jornada. Tive altos e baixos ao longo do tempo, mas agora peso 57kg e para mim estou com o peso ideal, sinto-me bem. O meu objetivo hoje é essencialmente moldar os músculos conseguidos e harmonizar o meu corpo.
Que mudança interior te ocorreu até adotares um estilo de vida saudável como o que tens atualmente?
A maior mudança, acreditem ou não, foi mental. O celebrar os pequenos sucessos e aprender a gostar de mim. O corpo apenas foi um reflexo do processo mental.
Explica-me um pouco do teu dia.
O meu dia é igual ao de tantas outras pessoas, acordo pelas 8h para trabalhar full-time, levar a filhota à escola e treinar depois do trabalho. O resto é a rotina que milhares de mulheres têm. Por isso digo que todas as pessoas conseguem mudar hábitos.
“O celebrar os pequenos sucessos e aprender a gostar de mim. O corpo apenas foi um reflexo do processo.”
Como é a tua rotina de treino?A minha rotina de treino neste momento consiste em 6 dias de treino por semana. Exercício cardiovascular entre 20 a 40 minutos dependendo se é HIIT ou LISS, e treino de força durante 1h a 1.30h após o trabalho. Treino costas, bíceps e abdominais no dia 1, dia 2 treino peito, tríceps e ombros e dia 3 treino pernas e glúteos, depois repito o esquema e descanso ao domingo.
Explica-me como foi a tua primeira semana de dieta e o teu primeiro dia de exercício físico.
Eu não considero o que faço uma dieta e sim um estilo de vida, pois não é um plano temporário. Mas posso adiantar que a primeira semana não foi tão difícil como pensava de início, foi o tomar consciência que tinha de fazer opções saudáveis, que tinha de dar ao meu corpo nutrientes que o saciassem e não apenas o que me apetecia. Exercício físico sempre havia feito desde criança, era ativa tendo frequentado aulas de ginásio em diversas modalidades, mas nunca era consistente para ver mudanças. O primeiro dia em que de facto abracei a modalidade do bodybuilding posso dizer que foi excelente, saí dorida como há muito não havia sentido mas, com uma sensação de realização, de missão cumprida que se via na minha expressão facial. Foi maravilhoso!
Descreve-nos um dia da tua alimentação.
Eu sigo IIFYM (if it fits your macros) também chamada de dieta flexível, que na minha interpretação é comer 90% “limpo” e saudável tendo em atenção as macro e micro nutrientes e deixar a restante percentagem para os desejos e a guloseima sem a qual “não podemos viver”. Um dia normal da minha alimentação consiste em:
• Pequeno-almoço: 2 fatias pão de forma integral 0% açucares com queijo quark 0% gordura e fiambre de aves e um café proteico (proteína whey e café);
• Lanche da manhã: queijo fresco e uma porção de frutos secos ou uma maçã com manteiga de amendoim;
• Almoço: peito de frango grelhado com batata-doce e bastantes legumes /vegetais regado com um pouco de óleo de coco e tempero a gosto, um quadrado de chocolate negro (não pode faltar!) e café;
• Lanche da tarde: iogurte grego ligeiro ou queijo quark 0% gordura com frutos vermelhos e farelo de trigo ou (em dia de treino de perna) 2 tostas integrais com doce light e queijo quark 0% gordura;
• Intra treino: 10g de BCAA (aminoácidos de cadeia ramificada) em 1 l de água;
• Pós treino: 20g proteína whey em água;
• Jantar: Peixe grelhado com bastantes legumes, arroz basmati, e gelatina 0% açúcares;
• Ceia: (nunca me deito com fome) normalmente gelatina ou queijo fresco, mas depende se me faltam atingir objetivos de proteínas, hidratos de carbono ou gorduras, e assim sendo tento completar o que falta;
E 4 litros de água por dia, mas comecei apenas com 2l e evoluiu gradualmente. Isto tudo, tendo em conta que se tiver com desejos de comer algo não me inibo, contabilizo o que como numa app (myfitnesspal) e faço encaixar nas minhas necessidades diárias, e claro modero as porções. Assim consegui um equilíbrio saudável e, agora tenho uma boa relação com a comida, deixei de ter medo de comer, pois tudo me é permitido.
“Antes de começar a perder peso odiava olhar-me ao espelho e quando o fazia ficava deprimida e a dissecar cada cm de pele e gordura que via.”
O facto de teres tido excesso de peso em criança deixou-te algum tipo de sequela psicológica?
Sim, sendo sempre a amiga rechonchuda havia o estigma de me comparar constantemente com as minhas colegas. De sentir que não era o suficiente e que não tinha o mesmo valor, algo que me assombrou durante anos, apesar de sempre me apresentar como alguém confiante.
Como é que geres o teu novo estilo de vida?
Neste momento giro o meu estilo de vida com muita naturalidade, a rotina instala-se e em família conseguimos fazer com que tudo funcione. Nem todos os dias são perfeitos, e por vezes o treino não dá para ser o melhor, mas nem que seja meia hora intensa, há sempre forma de encaixar alguma atividade física feita em casa. Costuma-se dizer, quando há vontade tudo se consegue, quando não há vontade arranjam-se desculpas.
Como era a tua relação como espelho antes da perda de peso?
Antes de começar a perder peso odiava olhar-me ao espelho e quando o fazia ficava deprimida e a dissecar cada cm de pele e gordura que via. A perguntar-me o porquê de me ter deixado ficar assim. Ir comprar roupa era uma tortura… ficava destroçada.
E como é a tua relação com o teu corpo hoje?
Hoje em dia gosto de mim, mesmo com as minhas marcas de guerra (estrias e pequenas zonas mais flácidas), anseio ver o que consegui melhorar com o treino e fazer a coisa tola de fletir os músculos ao espelho quando estou sozinha. Parece narcisista, mas temos que modificar a nossa mentalidade e aprender a gostar de nós. Olhar para o bom que temos, mesmo quando ainda estamos na jornada, celebrar as pequenas mudanças.
Como é o feedback da família e amigos à tua nova imagem?
Sou uma sortuda, pois minha a família sempre me apoiou nas minhas decisões. O meu marido foi um grande apoio, mesmo quando eu não estava tão bem. Os amigos reagiram bem, mas nem sempre o bodybuilding é fácil de explicar pois as pessoas associam músculos a masculinização e por vezes oiço comentários não tão felizes mas com os quais convivo bem.
O que é mais importante para ti? O percurso ou o peso final?Eu penso que tanto o percurso como o peso /objetivo final são importantes, pois o percurso ensina-nos muito, erramos e aprendemos a errar e a andar para a frente, e claro atingirmos o nosso objetivo é a cereja no topo do bolo!
Que mensagem gostarias de deixar aos leitores da InShape que estejam num processo de transformação corporal?
O que mais gostaria de frisar, por mais clichê que pareça, é que comecem! Seja abdicar de um bolo aqui, de uma pizza acolá. Seja terem a meta de andar ou correr 10 minutos por dia, comecem! Eu não iniciei o meu percurso a treinar como hoje, nem com toda a educação alimentar que hoje tenho, fui aprendendo, fui lendo e investigando o que funcionava para mim e procurei apoio em quem me podia ensinar. Não se deixem influenciar pelos outros, pois nem toda a gente vai entender a vossa decisão, vão haver criticas e tentativas de minar a vossa determinação, sejam fortes e gostem mais de vocês mesmos. E acreditem se eu, com todos os meus desafios consegui, todos vocês conseguem! Deem o primeiro passo para a vossa felicidade!
http://www.inshape.pt/caso-reais-7-lara-santos-34-anos-dos-3-os-2-digitos-iifym/
